quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Duas meninas

Podia falar sobre muita coisa hoje. Nos aniversários pode-se sempre falar do que se quiser. E hoje completam-se dois meses de vida da Mel.
E não consigo arranjar um tema.

A minha filha cresce a cada dia e eu tenho a felicidade de a ajudar a aninhar-se neste mundo, todos os dias, todos os minutos. E é bom esta coisa de pormos alguém no mundo e podermos amá-la e orientá-la à nossa medida. Pelo menos, até um certo dia.

Vou falar então sobre esta coisa do amor. Por uma menina.
Quis muito uma menina. Quis muito. Algumas vezes, adormeci o sentimento em mim mesma, para não dar o alerta à ingratidão e à frustração. Afinal, eu queria um bebé para habitar a vida comigo, para sempre. Ia amá-lo incondicionalmente, sempre. Mas, quando a médica me desse o veredicto - "é um menino!" -, sei que ia sorrir por fora e por dentro, mas tinha muito medo de baixinho, baixinho, pensar que "a menina vem a seguir, para fazer companhia ao mano".

Quis muito uma menina. Mas se tivesse um menino, ia amá-lo igual. Tenho sempre necessidade de acrescentar isto, não vá a vida querer castigar-me por ter preferências para o meu primeiro rebento. Parece que não se pode pensar assim, que é feio.

Fez-me a vida a vontade (Obrigada vida! Obrigada!).
Dois meses de menina com menina.

Não passei pela fase do "nasceste mas acho que ainda não te amo". Amei-te logo, logo. As hormonas, neste campo, não tiveram qualquer hipótese. Mas, ainda assim, me questiono, algumas vezes, baixinho, baixinho, o que me levou a querer tanto ter uma menina neste início de vida de mãe.

Quando te visto as collants cor-de-rosa, que selecionei para fazerem pendant com o vestido de finas florinhas e o gorrinho de crochet, penso que é por isso. Revivalismos de menina quando vestia as suas bonecas. Será? Todas as meninas sonham ter um dia no colo uma bonequinha que realmente respire, chore, fale e sorria?

E os meninos, sonham ter meninos para poderem jogar à bola e brincar novamente com carrinhos sem parecer mal?

Tem que haver mais qualquer coisa.

Quando paramos no tempo a olhar uma para a outra, tu à procura do soninho, eu à espera que adormeças, penso na cumplicidade que espero que venhamos a ter, afinal, somos duas meninas, com 33 anos de diferença apenas. Acho que nos podemos entender bem nas meninices. Sei brincar às cozinhas, perceber a urgência de um totó no cabelo, apreciar uma saia com folhinhos, suportar o cor-de-rosa como cor dominante... Então, tem tudo a ver com nívies de segurança mínimos para começar esta aventura?

Deve haver mais qualquer coisa.
Mas também não interessa muito. Ou nada.
Esta coisa do amor nâo tem  que ter conclusões.
É amor pronto.
Neste caso, de uma menina por uma menina.








2 comentários:

  1. Menina ...ou menino...tanto faz, às vezes. Mas, no fundo no fundo, há sempre alguma preferência, algum anseio profundo...
    No final, o que importa realmente é que Amor é Amor... e mai nada!

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